Relatório Entomológico dos Trabalhos Realizados
Relatório Entomológico dos Trabalhos realizados em Xapuri
Esse relatório tem como objetivo, informar as atividades realizadas através do levantamento entomológico aplicado à fauna flebotominica no município de Xapuri, nas localidades Ser. Floresta, Ser. Maloca, Ser. Nazaré, Ser. Albracia e Ser. Tupá, estas localidades estão localizada na Reserva Extrativista Chico Mendes, no Estado do Acre, entre as latitudes 10o 00'S e 11o 00'S e as longitudes 68o 00'Wgr e 70o 00'Wgr, abrangendo 6 municípios: Rio Branco, Xapuri, Brasiléia, Sena Madureira e Assis Brasil e Capixaba. É categorizada como uma "Unidade de Conservação de Uso Sustentável". É a maior Reserva Extrativista do Brasil, com uma área de 931.062 ha, com uma população estimada em 9.000 habitantes, conferindo uma densidade demográfica de 0,9 hab/Km2; ao total são 1.500 famílias distribuídas em 48 seringais com aproximadamente 1.100 colocações, cada uma delas tendo em média 672 ha (CNS,1992 , ALECHANDRE et al., 1999).
A investigação da presença de espécies de flebotomíneos vetores de Leishmaniose Tegumentar Americana, na área de ocorrência de casos no ano de 2009, priorizou conhecer as espécies de flebotomíneos que ocorrem nas áreas rurais do município. Área de preservação ambiental do município de Xapuri, medindo aproximadamente 20 km. Este trabalho foi realizado pela equipe de entomologia estadual com participação da equipe de endemias municipal de Xapuri. , Período 14 a 25/09/09.
CASOS DE LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA NOS SERINGAIS: FLORESTA, MALOCA, TUPÁ, NAZARÉ E ALBRACIA NO MUNICÍPIO DE XAPURI /AC
A Leishmaniose Tegumentar (LTA), doença relacionada ao trabalhador e/ou residente de zona rural devido à característica do habitat do vetor – catuqui é bem evidenciada em todo Estado do Acre que possui um coeficiente de detecção muito elevado. Até a data atual ainda não havia evidenciado nenhum surto de tal agravo em todo Estado.
No município de Xapuri existem muitas áreas rurais com mata muito próxima da cidade. Nos últimos dois anos de 2008 á 2009 ocorreram vários casos de LTA nos seringais (Xapuri) principalmente: Nazaré, Floresta, Tupa, maloca e Albracias, onde foram notificados 66 casos com confirmação diagnóstica laboratorial, casos esses que já estão em tratamento. No município encontra-se muito local rural com características propícias a um habitat natural do flebótomos (inseto transmissor da LTA), o que poderá implicar transmissão em área peri-urbano. A área técnica de entomologia da Secretaria Estadual de Saúde - SESACRE realizou estudo entomológico de 14 a 25/09/09 que teve como objetivo de identificar espécies na transmissão da LTA, avaliar ocorrências de transmissão local, detectar fatores de risco e intervenção de controle e prevenção, usando a metodologia para as capturas de flebótomos com armadilhas luminosas tipo CDC no intradomicílio, abrigo de animais, peridomícilio e mata no extradomicilio, sendo essas armadilhas funcionando 12hs durante 2(duas)noites consecutivas . Os resultados das treze (13) capturas foram:
Intradomicílio; Quantidade de Insetos: 05 Gênero: Lutzomyia Espécies: Whitmani, choti
Peridomicílio, Quantidade de Insetos: 110, Gênero: Lutzomyia Espécies: whitmani, choti, celulana viannamartinsi, aurauensis davisi, umbratilis, amazonensis, laisone, sherlocki, aragaoi, antunesi, ottolinae, richardwardi, dysponeta, dendrophila, saulensis.
Extradomicílio; Quantidade de Insetos: 87, Gênero: Lutzomyia Espécies: whitmani, auraensis, saulensis, umbratillis,infraspinosa, rorotaensis,h.nicaraguensis, recurva, dysponeta, sherlocki, davisi, choti, antunesi, christensis
Da totalidade de insetos encontrados, 2,5% estavam no intradomicílio, 54,5% no peridomícilio e no extra 43%. Sendo que no intradomicilio dentre estes dois porcentos havia o vetor primário da transmissão, como também no Peri e extra domicilio, pela qual a situação da densidade do vetor é bastante alta. Podendo ocasionar a transmissão em todos os ambientes.
Os tipos de imóveis investigados foram residências e escola nos quais se encontram a um raio de 70 metros da vegetação, o que contribuiu para os casos de LTA.
Após a investigação entomológica constatou–se a presença do vetor primário Lutzomyia whitmani e L. umbratilis, transmissor potencial da LTA e outras espécies de pouca importância na transmissão do agravo. Relatando ainda que a localidade apresenta um alto risco de transmissão da doença, pois possui características e condições propícias, tais como:
- Presença de espécies transmissora em abundância;
- Floresta próxima das moradias, com condições favoráveis para reprodução e permanência das espécies transmissoras;
- Animais silvestre (hospedeiro primário) e doméstico;
- População vulnerável ao contato do vetor pelo hábito de adentrar as matas em busca de matéria prima para seu sustento.
SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA
O Acre, nos últimos 02 anos respectivamente, foi detectado em, 2008 (1207 casos) e 2009 até setembro (674 casos). Porém, o município de Xapuri contribuiu em 2008 com 9,7% do total de casos do Estado e 2009/setembro com 11,12%. Nas localidades Nazaré, Maloca, Tupá, Albrácia e Floresta em 2008 chegou a 38 casos perfazendo (32%) e até setembro de 2009 confirmou-se 23 casos 30,7%.
Em áreas potencias de transmissão, que a presença do vetor primário em abundancia, agente etiológico em circulação e população desprotegida, sugere-se uma faixa de segurança de 400 a 500mt entre as residências e a mata.
Localidades: Albrácia, Floresta, Nazaré, Tupã e Maloca.
A faixa etária dos pacientes confirmados com LTA nessas localidades é:
< de 0 5 anos: 24
De 05 a 10 anos: 11
De 10 a 20 anos: 20
De 20 e + anos: 11
Conforme dados acima, nota-se que em qualquer ambiente poderá ocorre à transmissão da LTA, mas em menores de 5 anos a incidência é alta em comparação as demais, isto significa que a transmissão poderá esta ocorrendo no ambiente intradomiciliar, pois as crianças com idade citada não tem o habito de adentrarem na mata.
Notificação
Todo caso suspeito deve ser notificado, após confirmação diagnóstica através de exames laboratoriais (IRM e escarificação), no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).
O município de notificação deverá realizar o fluxo de retorno (se for importado) através do SINAN-NET para o município de residência do paciente, a fim de que este realize acompanhamento e encerramento do caso no período de no máximo 180 dias.
Investigação dos casos suspeitos:
- Identificação do paciente;
- Coleta de dados clínicos e epidemiológicos: preenchimento da Ficha de Investigação, identificação de área de transmissão, busca ativa de casos (se necessário);
- Caracterização do local provável de infecção, a partir da história clínica e epidemiológica e dos dados entomológicos, destacando a importância da sua caracterização;
- Encaminhar paciente para realização de diagnóstico laboratorial para confirmação do agravo.
- Acompanhamento do paciente durante e após o tratamento durante 3 meses.
A indicação do controle químico deverá ser determinada pelas análises conjuntas dos dados epidemiológicos e entomológicos.
Não há indicação do controle químico para ambiente silvestre.
A investigação indicará a necessidade da adoção de medidas de controle da LTA, destacando que o diagnóstico precoce e tratamento adequado dos casos humanos, bem como atividades educativas, devem ser priorizados em todas as situações. O atendimento aos pacientes deve ser realizado por demanda espontânea nas unidades de saúde, busca ativa de casos em área de transmissão, quando indicado pela VE ou pela Equipe USF.
PRINCIPAIS RECOMENDAÇÕES:
1. Monitoramento entomológico mais detalhado da área considerando a distribuição e quantidade de espécies de flebotomíneos em relação à cobertura vegetal natural da localidade. Para obtermos dados detalhado, faz necessário um estudo de 2 (dois) anos, onde vamos obter informações precisas do comportamento, distribuição e quantidade do vetor. De preferência a localidade deverá ser aquela que tiver concentrado o maior número de casos humanos autóctones de LTA nos dois últimos anos.
2. Tratamento e acompanhamento dos pacientes com LTA, a ser utilizado por profissionais de saúde, a fim de evitar forma grave da doença e garantir o completo tratamento sem abandono.
3. Educação em saúde no local a fim de expor os prováveis riscos de contrair a doença, bem como sua gravidade;
4. Divulgação à população sobre a ocorrência da LTA na localidade orientando para o reconhecimento de sinais clínicos e a procura dos serviços para diagnóstico e tratamento, quando houver caso suspeito;
5. Área a ser borrifada deverá compreender um raio inicial de 500mt em torno dos domicílios onde ocorreram os casos humanos. Em áreas rurais em que os domicílios estejam muitos dispersos, esta distância deverá ser ampliada para 1km. Importante ressaltar que esta ação deverá ser integrada com as demais ações de controle do vetor como uso de mosquiteiros, retirada de vegetação próximo às residências, uso de repelentes dentre outras;
6. Orientar medidas preventivas tais como:
- manejo ambiental por meio de limpeza de quintais e terrenos, a fim de alterar as condições favoráveis do meio, que propiciem o estabelecimento de criadouros do vetor;
- poda de árvores, de modo a aumentar a insolação, para diminuir o sombreamento do solo e evitar as condições favoráveis (temperatura e umidade) ao desenvolvimento de larvas do vetor;
- destino adequado do lixo orgânico, a fim de impedir a aproximação de roedores e outros animais, prováveis fontes de infecção para os flebótomineos;
- limpeza periódica dos abrigos de animais domésticos, bem como afastar esses abrigos da casa de morada.
- afastar animais domésticos do intradomicílio durante a noite, de modo a reduzir a atração dos flebotomíneos para este ambiente;
- uso de mosquiteiros de malha fina e ou de repelentes.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS:
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – SESACRE
DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE - DVS
DIVISÃO DE ENDEMIAS – FONE: 68-3224 7019
Email: endemias.saude@ac.gov.br
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE - SEMUSA
GERENCIA DE ENDEMIAS
FONE: 68-3542-2489
Email: endemiasxapuri@gmail.com
Equipe que desenvolveram o trabalho:
Claudio Rodrigues de Souza
Janis Lunier de Souza
Giancarlo Morais do Nascimento
Marcelo Anderson da Silva Leme
Joaquim Vidal
José Alberson Morais de Brito
Valdomiro Rodrigues Matos
Cláudio Rodrigues de Souza
Responsável pela Área Técnica de Entomologia - SESACRE